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Macaúba conta agora com Zoneamento Agrícola de Risco Climático

Foto: Cláudio Bezerra Melo

Cláudio Bezerra Melo - O Zoneamento de Risco Climático para a macaúba traz segurança para os investimentos

O Zoneamento de Risco Climático para a macaúba traz segurança para os investimentos

  • Zarc disponibiliza dados para as três principais espécies da palmeira para regimes de sequeiro e irrigado.
  • Encontrada em quase todo o território brasileiro, palmeira gera frutos capazes de produzir 5 toneladas de óleo por hectare.
  • Macaúba é importante matéria-prima de cosméticos e biocombustíveis como diesel verde e combustível de aviação.
  • Cultura está em processo de domesticação e o zoneamento de risco climático impulsiona sua consolidação como cadeia de valor.
  • Produz mais óleo por hectare que a soja e, diferentemente do dendê, pode ser plantada fora das zonas de florestas úmidas.

 

Acaba de ser publicada a portaria com o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) para a cultura da macaúba no território brasileiro. Trata-se de uma palmeira capaz de produzir 5 toneladas de óleo por hectare, ofertando matéria-prima para combustíveis renováveis, alimentos, cosméticos e medicamentos. Sua introdução no Zarc significa que serão disponibilizadas informações sobre as regiões mais favoráveis para o plantio dessa palmeira.

A ferramenta classifica os municípios em diferentes níveis de riscos de frustração de safra de acordo com características climáticas, sobretudo relacionadas ao solo e à disponibilidade de água, em conjunto com o ciclo de desenvolvimento da espécie e as necessidades da cultura. O Zarc ajuda a minimizar os riscos relacionados aos fenômenos climáticos adversos; com isso, subsidia tecnicamente a concessão de crédito e seguro rural.

O Zarc da macaúba foi elaborado para três espécies de interesse econômico dessa palmeira: Acrocomia aculeata (de ocorrência predominante no Brasil Central), Acrocomia totai (noroeste do Paraná, oeste de São Paulo, Mato Grosso do Sul e Pantanal) e Acrocomia intumescens (algumas áreas do Nordeste). Os sistemas de produção foram tipificados em sequeiro e irrigado. Ainda foi elaborado o Zarc para a fase de implantação, considerando-se também as situações de sequeiro e de irrigação.

Simone Favaro, pesquisadora da Embrapa Agroenergia, que coordena o Zarc Macaúba, conta que foram utilizados os riscos hídricos e térmicos e observações de área de ocorrência natural da macaúba no território brasileiro, considerando as particularidades das diferentes espécies de interesse. “A macaúba é uma cultura que está em fase de domesticação e a organização da sua cadeia e o ganho de escala estão tendo forte tração”, relata a cientista. “O Zoneamento de Risco Climático para a macaúba traz maior segurança para os novos investimentos que estão sendo feitos, ao mesmo tempo que demanda a continuação de pesquisas para o desenvolvimento de cultivares adequadas para todo o território nacional, de forma a avançar num zoneamento com base em dados experimentais e não apenas em observações de dispersão das espécies”, completa Favaro.

Participantes do Zarc Macaúba

Atuaram nesse trabalho Mauricio Lopes (Embrapa Agroenergia), Humberto Umbelino Sousa (Embrapa Meio Norte), Luiz Veras (Embrapa Algodão) e houve apoio externo dos professores Leonardo Pimentel e Sérgio Motoike, da Universidade Federal de Viçosa (UFV), e com o pesquisador do Instituto Agronômico (IAC) Carlos Colombo, além de colaboradores bolsistas da Embrapa.

 

Ela salienta que ainda há poucos dados experimentais que possam cobrir todo o território brasileiro envolvendo a vasta diversidade que a macaúba apresenta. “É importante dizer que essa primeira versão do Zarc é limitada pela baixa disponibilidade de informações. Deve-se observar o zoneamento com base nas classes de solo de cada área em que se pretende estabelecer um cultivo da macaúba”, recomenda Favaro, ao informar que o sistema de produção de mudas em sequeiro com produção irrigada não está previsto no Zarc.

Por ter enorme diversidade de características fenotípicas e ocorrer de forma espontânea em boa parte do Brasil, os pesquisadores preveem que seu cultivo comercial seria apto em grande parte do território nacional. No entanto, os especialistas reforçam que a espécie requer certas condições de solo, de disponibilidade hídrica e de temperatura para que apresente uma produção de frutos viável para um empreendimento comercial. O Zarc, ao auxiliar na delimitação das áreas de cultivo e na adoção do sistema de produção, promove menos incertezas ao investidor e ao agente financeiro.

O processo de validação

Para chegar à publicação do Zarc, foi realizada a reunião de validação prevista pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), com a participação da equipe que elaborou o Zoneamento da macaúba e com a comunidade externa, estando presentes, além da Embrapa, docentes universitários, agentes de extensão, empresários do setor, pesquisadores de outras instituições científicas e de inovação tecnológica (ICTs), além de agentes do sistema bancário.

Na reunião, foram apresentados os resultados prévios dos estudos do Zarc, contendo a metodologia, a fenologia da cultura, critérios de riscos e dados de dispersão da cultura nos biomas brasileiros para conhecimento público e discussão da proposta.

“A reunião foi bastante participativa e foram levantadas questões ligadas a aspectos técnicos do Zarc, para os quais foi necessário reforçar o objetivo como política pública de gestão de riscos e não de aptidão agrícola. Também foi questionada a restrição em determinadas áreas de menor disponibilidade hídrica. Após considerações da equipe e ponderando o risco excessivo que estas áreas representariam em sistema de produção em sequeiro, prevaleceu o entendimento de que, neste momento, o Zarc representa muito bem os riscos potenciais”, afirma Favaro.

 

Potencial para a produção agroenergética 

A macaúba representa uma oportunidade de o Brasil ser protagonista na oferta de óleos vegetais e produtos acabados produzidos a partir deles de forma sustentável. Isso porque a palmeira pode ser produzida em áreas de pastagens com diferentes níveis de degradação. Com isso prescinde de abertura de novas áreas, ou seja, não é necessário desmatar para que ela seja plantada. A cultura também se adapta muito bem a sistemas de produção integrados com lavoura ou pecuária permitindo intensificação do sistema produtivo.

Outra vantagem é que ela pode ser cultivada em vastas áreas do País, diferentemente da palma de óleo (dendê), restrita a regiões de floresta tropical úmida. A macaúba é matéria-prima de inúmeros produtos capazes de compor uma diversificada cadeia de valor, incluindo a prestação de serviços ambientais e o mercado de crédito de carbono. Ela atende a mercados diversificados que vão desde combustíveis renováveis a produtos de beleza.

Foto: Vivian Chies

No setor agroenergético, a macaúba é a resposta para a vertiginosa demanda crescente por matéria-prima para a produção dos novos biocombustíveis – diesel verde e combustível sustentável de aviação. Além disso há um mercado já estabelecido de biodiesel, com a previsão legal de aumento da proporção na mistura do biocombustível no diesel de origem fóssil.

“Esse cenário de demanda por novos combustíveis renováveis, como parte da transição energética, é uma realidade também global e, portanto, o Brasil pode se tornar um importante fornecedor de produtos de valor agregado para o mercado internacional”, constata Favaro.

Aplicações do óleo

A macaúba produz dois tipos de óleos com propriedades distintas. O óleo de polpa, com maior teor de ácidos graxos insaturados, e o óleo de amêndoa, com maior proporção de ácidos graxos saturados. Essa diversidade de óleos permite aplicações nos segmentos de alimentos, tanto para óleo de mesa quanto para manufatura de produtos alimentícios como chocolates, sorvetes, recheios, frituras e margarinas.

O mercado de cosméticos e de higiene pessoal também é um forte consumidor de óleos vegetais, por exemplo, para a formulação de xampus, sabonetes, hidratantes corporais, maquiagens, entre outros. No setor de oleoquímicos, podem também ser utilizados na produção de tintas, vernizes e lubrificantes.

Foto: Simone Favaro

Oportunidades

“Há vários segmentos da cadeia que ainda precisam ser melhor desenvolvidos, desde a produção de mudas por sementes e clonagem, geração de cultivares, sistemas de produção adequados para os diferentes biomas, incluindo sequestro de carbono nos possíveis arranjos produtivos, além da parte industrial que vai desde a conservação pós-colheita do fruto, extração dos óleos e a destinação dos coprodutos gerados no processamento”, conta Simone Favaro.

Zarc pode estimular a produção da macaúba

O Zarc, como política pública, coloca a macaúba na lista de culturas de importância econômica e dá diretrizes mais sólidas para o seu cultivo. A percepção da sociedade de que o sistema bancário está preparado para apoiar o estabelecimento da cultura contribui para a tomada de decisão pelos investidores, além de demandar a continuidade de desenvolvimento tecnológico que certamente resultará em aumentos de produtividade.

Para os agricultores, a vantagem é poder ser beneficiado pelo Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro), pelo Proagro Mais e pelo Programa de Subvenção ao prêmio do Seguro Rural (PSR), uma vez que muitos agentes financeiros já estão condicionando a concessão do crédito rural ao cumprimento dos indicativos do Zarc.

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