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Killifish



Um nome um tanto curioso e enganador, à primeira vista. Nem predadores ferozes nem feras territoriais, os killifishs são pequenos peixes dulcícolas que, sobretudo, compartilham a característica de habitar pequenas coleções de água como riachos, igarapés e até mesmo diminutas poças temporárias de chuva. É uma palavra de origem holandesa, onde killi significa riacho, ou seja, peixes de riacho.


Essa discriminação se estendeu a todos os peixes que ocupam pequenas coleções de água doce, com características morfológicas, comportamentais e reprodutivas semelhantes.


Os killis pertencem à ordem dos cyprinodontideos, que engloba uma infinidade de gêneros e espécies pelo mundo, distribuídos em quase todas as regiões de clima tropical e temperado do planeta.


Em geral são peixes pequenos e muito coloridos, com formas e padrões de cores entre os mais belos. Vivem, geralmente, em ambientes saturados de material orgânico em decomposição e com pouquíssimo oxigênio diluído na água. Muitos acreditam, erroneamente, que se tratam de anabantídeos mas, diferentemente dos peixes do mesmo grupo dos betas, os killis não possuem o labirinto, órgão adaptado a retirar oxigênio do ar.


Os killis podem ser divididos em três grupos – anuais, não-anuais e semi-anuais – de acordo com as características reprodutivas.


Os killifishes anuais têm uma particularidade especial. Eles habitam poças e charcos temporários, que encontram-se cheios de água durante a estação das chuvas e secam durante o período da estiagem.


Para isso tiveram que passar por um longo processo evolutivo até desenvolverem um mecanismo de reprodução que lhes garantisse a sobrevivência das espécies após o tempo da seca. Diapausa é o nome dado a esse mecanismo. Trata-se de um estágio onde o desenvolvimento embrionário no interior dos ovos fica estacionado, aguardando um determinado período para completar a formação do embrião, para que ocorra a eclosão dos ovos e nascimento dos alevinos à chegada das chuvas. Mas nem todos os ovos eclodirão juntos, alguns terão períodos de diapausa maiores para que a espécie não pereça diante de eventuais chuvas fora de época.


Os killis anuais ocorrem tanto na América do Sul como na África. Os primeiros pertencem à família Rivulidae, que engloba gêneros com Austrolebias, Cynolebias, Simpsonichthys, Leptolebias, Pterolebias entre outros. Os africanos pertencem à família Aplocheilidae e têm gêneros como Nothobranchius, Protonothobranchius e Fundulosoma.


Os killifishes conhecidos como não-anuais são aqueles que habitam pequenas coleções de água corrente, como rios, riachos, igarapés e fios-d’água. Podem ser encontrados nos mais diversos tipos de biótopos, dentro de florestas, savanas, charcos, áreas de restinga e manguezais. Ao contrário dos killis anuais, não estão adaptados à reprodução com diapausa e não fazem uso da sazonidade de poças temporárias, apesar do contra-senso de algumas espécies antigamente tratadas como não-anuais haverem sido reclassificadas em um gênero à parte por terem a capacidade de se reproduzir dessa maneira também. Trata-se do gênero Fundulopanchax, único representante do grupo dos semi-anuais.


Nas Américas o principal gênero não-anual é o Rivulus, com mais de cem espécies descritas. Além deles podemos citar os Prorivulus, Kryptolebias, Jordanela, Cubanichthys, Fluviphilax. No continente africano os principais gêneros são Aplocheilus, Epiplatys e Aphyosemion, além de Adamas, Poropanchax, Adinia, Hylopanchax e Lamprichthys.


Manutenção

Os não-anuais desovam em plantas e raízes de plantas flutuantes, poucos ovos por vez. Não formam casais a longo prazo, o macho e a fêmea apenas se encontram para a reprodução.


Os ovos costumam ser resistentes, com um córion rígido e uma substância adesiva que os fixa ao meio de desova. Os criadores de não-anuais usam um mop (ou bruxinha), artefato de lã acrílica flutuante que simula uma planta com raízes e facilita a coleta dos ovos, que costumam eclodir entre 15 e 25 dias, em geral.


Há um enorme número de espécies e gêneros nesse grupo – sobretudo nos continentes africano e asiático – com padrões de cores e particularidades bem variadas. Algumas curiosidades chamam a atenção, como a Kryptolebias ocelattus, o único killi hermafrodita auto-fecundante – não precisa de parceiro para se reproduzir.


Os anuais desovam no substrato. Para reproduzi-los usa-se turfa ou coxim granulado (pó de casca de côco) como meio de desova. Os peixes podem enterrar (mergulhadores) ou simplesmente depositar(aradores) os ovos sobre a superfície, de acordo com a espécie. Esse substrato é retirado à ocasião de troca de água do aquário e seca a uma determinada umidade. Então é embalada e etiquetada e aguardará durante um período correto até a data de reidratação, para que nasçam os alevinos. Esses costumam ter um desenvolvimento bem mais acelerado se comparados a espécies não-anuais. Costumam atingir a maturidade sexual rapidamente devido ao seu curto ciclo de vida.


Os semi-anuais encontram-se num estágio intermediário no sistema evolutivo. Algumas espécies reproduzem melhor com bruxinhas e outras rendem melhor com substrato.


Algumas espécies de killis são muito fáceis de criar. Mas a maioria carece de cuidados especiais, principalmente no que diz respeito à sua alimentação. A dieta preferida de todos é composta de alimentos vivos, como tubifex, artêmia, náuplios, dáfnias, enquitréias e bloodworm. As espécies anuais, sobretudo SAAs (south-american annuals) dificilmente aceitam rações industrializadas, o que aumenta um pouco sua dificuldade de manutenção.


Preservação

Uma característica muito importante dos killis, tanto anuais como não-anuais ou semi, é o alto grau de endemismo. Por habitarem diminutos espaços aquáticos, algumas espécies acabam por estreitar suas características genéticas e restringir o espaço físico que ocupam no meio-ambiente, resultando num grande número de espécies, algumas muito parecidas , mas que apresentam características específicas, genéticas ou morfológicas, que delimitam e as distinguem. Esse endemismo é um fator determinante no status de conservação destas espécies, pois algumas ocupam nichos ecológicos mais suscetíveis à exploração do homem e consequente ameaça à sua existência. Muitas espécies encontram-se seriamente ameaçadas, e algumas já são consideradas extintas.


Isso torna o hobby um desafio sério, no sentido de preservação. A manutenção de espécies com genótipo puro e com populações separadas é importantíssimo para a conservação das características endêmicas de cada espécie. O hibridismo não é nada interessante no caso dos killis, pois geralmente resulta em espécies inférteis, dependendo dos cruzamentos, ou com pouco valor científico, por não conservar as características originais.


Assim a criação de killifishes acaba-se tornando um hobby desafiador e viciante, o impulso de ter mais espécies e populações diferentes resulta em hobbystas com inúmeros aquários em casa e um problema maior: onde colocar mais.


Fonte: Aquarismo paulista

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